Às vezes temos a ilusão de que controlamos tudo e que somos donos da razão. Que todas as coisas que fazemos são motivadas por intenções altamente plausíveis, minuciosamente planejadas. Aí nos deparamos com o impensado, o incalculado, o imprevisível: o monstro que é o nosso próprio agir sem saber, a irracionalidade que nos governa pelas sombras.
Tudo na vida tem muitos lados. Ficamos perplexos com a nossa capacidade de ser contraditórios em nossos próprios afetos, nos nossos próprios desejos e querer. A reflexão e a análise perdem completamente sua capacidade pela falta de lógica dos desejos contrários, que desafiam a realidade que inventamos para nós mesmos.
A busca incansável pelo verdadeiro, o original, o que se é de verdade, uma identidade fixa, a racionalidade do agir; anula a contradição e solidifica a liberdade. Em essência, não se é nada! Não se age da mesma forma em situações diferentes. Não somos as mesmas pessoas diante de pessoas diferentes. Somos relação, contradição, sim e não, talvez, isso ou aquilo, tomará e quem sabe?!
Quem espera que a realidade, a verdade e o ser seja um córrego tranquilo, se engana.
